Água na diversidade da vida e na produção de alimentos é pauta de evento do Igam

Sex, 29 de Junho de 2018 17:07

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Foto: Emerson Gomes
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Duas rodas de conversa finalizaram os debates do evento “Água em nossas vidas”

 

Agroecologia, segurança alimentar e agricultura familiar pautaram o segundo dia do encontro “Água em Nossas Vidas”. O intuito do evento é promover um diálogo sobre os desafios, os avanços e as alternativas para o uso da água de maneira eficiente e sustentável. A iniciativa é uma realização do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) com o apoio da Secretaria de Estado de Desenvolvimento agrário (Seda), da Secretaria de Estado da Cultura (Sec), da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) e do Conselho de Regional de Engenharia e Agronomia de Minas Gerais (Crea-MG). O encontro está sendo realizado no Museu Mineiro e termina hoje, às 17h30.

 

A abertura do segundo dia de encontro foi feita pelo chefe de gabinete do Igam, Marcelo da Fonseca, que também foi o mediador da roda de conversa que tinha como tema “Água e Alimento”. O debate contou com a participação do presidente do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável de Minas Gerais (Consea-MG), Élido Bonomo, do chefe de gabinete da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agrário (Seda), José Antônio Ribeiro (Tisé) e da cientista social e agricultora familiar integrante da Organização de Controle Social (Bosc) de Catas Altas, Barão de Cocais e Santa Bárbara, Glória Regina Perpétuo.

 

O presidente do Consea-MG iniciou o debate falando sobre o papel do conselho. “O Consea atua na formulação, monitoramento e avaliação de políticas públicas de segurança alimentar e nutricional. Ele é um espaço institucional para o controle social e participação da sociedade. Somos um conselho composto por dois terços de representante da sociedade civil e um terço de representantes do poder público”, explicou.

 

O presidente do conselho apontou a questão de reposição hídrica como um fator de preocupação para a sociedade. “Atualmente, domina no Brasil a agricultura do agronegócio, da monocultura. Esses modelos de negócio não se preocupam com a preservação dos patrimônios hídricos e nem com reposição da água. É a agricultura familiar que tem essa preocupação, que promove a preservação das nascentes, dos cursos hídricos. Por isso, precisamos fortalecer cada vez mais o papel dos pequenos agricultores”, completou.

 

O trabalho que o Governo de Minas vem desenvolvendo para incentivar os pequenos agricultores no Estado foi o assunto trazido pelo chefe de gabinete da Seda. “A Seda foi criada em 2015, na gestão do governador Fernando Pimentel, com o objetivo de promover e implantar políticas públicas voltadas para a agricultura familiar. Temos ainda vinculados à pasta cinco conselhos, que auxiliam na nossa gestão”, destacou.

O chefe de gabinete destacou a Política Estadual de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA Familiar). “Em Minas, os órgãos e entidades do Governo de Minas devem aplicar no mínimo 30% dos recursos destinados à compra de gêneros alimentícios na aquisição de alimentos produzidos pela da agricultura familiar”, afirmou.

 

O cadastro online de uso insignificante da água, lançado em maio do ano passado pelo Igam, foi citado pelo chefe de gabinete do Igam. “Esse sistema traz uma grande contribuição para a agricultura familiar, que passou a obter a sua outorga de maneira mais prática e rápida”.


Ribeiro também ressaltou a importância de eventos como o encontro “Água em Nossas Vidas”. “Precisamos cada vez mais criar espaços de diálogos como este. A discussão em torno do acesso à água e segurança alimentar se faz cada vez mais necessária”, conclui.

 

Já a agricultora familiar Glória Regina Perpétuo relatou sua experiência com a agroecologia. Ela destacou a importância da preservação do solo que, segundo ela, é fundamental para garantir a produção de alimentos e a proteção dos recursos hídricos. “A cobertura e a saúde do solo são aspectos essenciais para garantir a absorção de água. Dentro dos princípios praticados pela agroecologia, essa preocupação com o solo é uma constante, ao contrário do que se pratica nas grandes monoculturas”, ressaltou.

 

Roda de Conversa - Água na diversidade das Vidas

 

Na parte da tarde, a roda de conversa reuniu especialistas e interessados na biodiversidade dos rios e cursos d´água de Minas. O gerente de Ações e Programas Ambientais da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), Rafael Augusto Fiorini foi o mediador da atividade.

 

Fiorini iniciou o debate lembrando que o avanço nas pesquisas de conservação não tem sido incorporados à gestão de recursos hídricos e fez uma provocação aos participantes da roda de conversa: “Temos que pensar em como a análise biológica dos corpos hídricos pode ser usada no licenciamento ambiental e em como os dados podem ser levados à população”.

 

Já a pesquisadora do Instituto Senai de Tecnologia em Meio Ambiente, Mônica Campos, observou que biodiversidade é o conjunto de espécies, sua integração, os serviços e processos decorrentes dela e a vida que é gerada. “O Brasil abriga 20% das espécies do globo terrestre, daí a relevância do tema para nós”, afirmou.

 

Ela lembra que quando se trata de biodiversidade aquática, as relações incluem uma infinidade de espécies ocultas, além dos peixes que são mais visíveis. É o caso dos planctons que são fundamentais para a vida no planeta. Mônica Campos afirma que os países europeus têm adotado um conceito de integridade ecológica que visa avaliar as respostas biológicas, as peculiaridades de cada região, o habitat, o contexto geológico e não somente a quantidade e a qualidade da água.

 

“É uma metodologia holística e mais avançada, que toma por base várias disciplinas”, explica Monica Campos. Ela lembra que a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Cemig desenvolveram um índice de integridade biológica para alguns reservatórios da Companhia no Estado. Os resultados para três deles foram reunidos numa publicação que está disponível no site na Cemig, no endereço www.cemig.com.br

 

Legislação

 

O pesquisador da UFMG, Carlos Bernardo Mascarenhas Alves, observou que ao longo do tempo, a legislação nacional e também a mineira evoluíram nos seus mecanismos de monitoramento e já têm espaços para uma avaliação que se aproxima da integridade biótica. Ele explicou que os estudos realizados pela universidade nos reservatórios da Cemig avaliaram também pontos nos cursos d´água que contribuem para a formação das represas.

 

Alves destacou as diferenças de metodologia adotadas nos Estados Unidos e na Europa, onde a avaliação de integridade biótica dos rios está mais avançada. “Nos EUA, usa-se o conceito de ecoregião, enquanto na Europa, têm-se uma diferença socioeconômica muito grande entre os países. O rio Danúbio, por exemplo, corta dez países muito diferentes e com avaliações bem distintas”, explica.

 

Completando a roda de conversa, o secretário da Cáritas Regional de Minas Geraixs, Rodrigo Pires Vieira, apresentou as ações da entidade com comunidades tradicionais do Norte e do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. “Realizamos oficinas e encontros regionais num esforço de criar e difundir tecnologias ligadas à agroecologia e à convivência com o semiárido”, explica.

 

Vieira observa que as ações incluem os diversos povos tradicionais que vivem na região como os indígenas, quilombolas, vazanteiros e catingueiros. “2010 foi o último ano com chuvas satisfatórias na região e o povo já notou mudanças nas plantas tradicionais como pequi, gabiroba e mangaba”, afirma.

 

A Caritas é uma entidade de promoção e atuação social que trabalha na defesa de direitos humanos, de segurança alimentar e do desenvolvimento sustentável solidário. Tem atuação junto às pessoas excluídas, em defesa da vida e na participação da construção solidária de uma sociedade justa, igualitária e plural.

 

Janice Drumond e Emerson Gomes
Ascom/Sisema