Risco de escassez de água é mapeado

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Uma das nações com maior disponibilidade de água doce e potável no mundo, o Brasil recebeu ontem um alerta quanto ao uso do recurso natural. Segundo o relatório GEO Brasil Recursos Hídricos, realizado pela Agência Nacional de Águas (ANA), indica risco de abastecimento no futuro e recomenda “atenção e acompanhamento especiais” com a expansão da irrigação. O estudo aponta que o volume usado em lavouras e nos pastos da pecuária é de 46% do total. Essa porcentagem é superior ao consumo humano (27%) e ao uso industrial (18%).

“Esse trabalho da ANA é muito importante, pois, com base nesses dados, poderemos estabelecer nos planos diretores das bacias hidrográficas aquilo que será alocável ou outorgável para cada um dos setores abastecidos por água”, afirma o diretor geral do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), Paulo Teodoro de Carvalho.

O relatório traça cenários e previsão de investimentos para revitalização das principais bacias hidrográficas brasileiras nos próximos 20 anos. Para a região hidrográfica do rio São Francisco, seriam necessários quase R$ 12 bilhões para levar água e esgoto tratados a todos a população residente em sua área.

De acordo com informações da ANA, graves problemas gerados pela escassez de água na região hidrográfica do São Francisco já são evidenciados nos rios Verde Pequeno, Gorutuba e Verde Grande, todos em Minas Gerais.

Ainda segundo a agência nacional, quase 13 milhões de pessoas habitam essa região, sendo que as maiores concentrações estão situadas no Alto e no Médio São Francisco. A população urbana representa 74% da população total.

A região abrange 521 municípios e sete unidades da federação: Bahia (48,2%), Minas Gerais (36,8%), Pernambuco (10,9%), Alagoas (2,3%), Sergipe (1,1%), Goiás (0,5%), e Distrito Federal (0,2%). Um aspecto significativo no cenário social e econômico da região refere-se à agricultura.

A área irrigada é de 342,9 mil hectares – correspondendo a 11% dos 3,1 milhões de hectares irrigados no Brasil. A região hidrográfica do Paraná está ameaçada pela urbanização, segundo a ANA.

É a que tem maior desenvolvimento econômico do país. Com 32% da população do país, a região abrange os Estados de São Paulo (25%), Paraná (21%), Mato Grosso do Sul (20%), Minas Gerais (18%), Goiás (14%), Santa Catarina (1,5%) e Distrito Federal (0,5%).

Cerca de 54,6 milhões de pessoas vivem na região, sendo 90% em áreas urbanas. O crescimento de grandes centros urbanos, como São Paulo, Curitiba e Campinas, em rios de cabeceira, tem gerado uma grande pressão sobre os recursos hídricos.

Isso ocorre porque, ao mesmo tempo em que aumentam as demandas, diminui a disponibilidade de água devido à contaminação por efluentes domésticos, industriais e drenagem urbana. Nesse contexto, a escassez de água observada na região é bastante significativa.

O relatório GEO Brasil Recursos Hídricos, divulgado ontem em Brasília, é o primeiro volume de uma série de estudos sobre o estado e perspectivas do meio ambiente no país.

O documento divulgado ontem sistematiza, pela primeira vez, informações sobre a situação da água brasileira, além de traçar 91 recomendações para um futuro sustentável desse patrimônio. A metodologia usada no estudo é a mesma adotada nas pesquisas do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).

Relatório sugere melhoria na gestão dos recursos

O relatório da Agência Nacional de Águas (ANA) apontou dezenas de propostas voltadas à promoção de novos avanços na gestão integrada dos recursos hídricos no Brasil. Entre elas pode-se destacar a necessidade de se aproveitar, de forma sustentável, as vantagens que da abundância hídrica do país.

Mas, para isso, diz o documento, seria necessário realizar estudos estratégicos e integrar o planejamento dos recursos da água com o planejamento econômico.

Outro ponto sugerido pelo relatório é, por intermédio da ANA, incentivar os Estados a estruturarem e fortalecerem seus órgãos gestores de recursos hídricos, considerados essenciais para avanços sustentados nessa área.

Além disso, destaca a necessidade de promoção do desenvolvimento científico e tecnológico em recursos hídricos, bem como ações de comunicação e educação ambiental com foco na gestão das águas.

Para Apolo Heringer, coordenador do projeto Manuelzão, que luta pela preservação da bacia do rio das Velhas, o relatório da Agência Nacional de Águas (ANA), além de apontar panoramas para o futuro dos recursos hídricos brasileiros e soluções aos problemas, deve subsidiar tomadas de decisões do governo Federal no que diz respeito a investimentos futuros em infra-estrutura, com construção de hidrelétricas e hidrovias. (IG)

MG está em quatro regiões hidrográficas
DA REDAÇÃO

Além das regiões hidrográficas do Paraná e do São Francisco, Minas Gerais também está incluída nas regiões Atlântico Leste e Atlântico Sudeste, segundo divisão da Agência Nacional de Àgua (ANA). Todas elas apresentam problemas que podem levar à escassez do recurso.

O extrativismo vegetal, principalmente para exploração do potencial madeireiro, é o que mais provoca impacto sobre o meio ambiente na região hidrográfica do Atlântico Leste. Fazem parte dela 468 sedes municipais. Minas Gerais corresponde a 26,2% da área.

Já no Atlântico Sudeste há a menor disponibilidade relativa de água. A região hidrográfica tem 229.972 quilômetros quadrados, o equivalente a 2,7% do País. Seus principais rios são o Paraíba do Sul e o Doce, com respectivamente 1.150 km e 853 km de extensão.

O problema da escassez nessa região é evidenciado no rio Paraíba do Sul, que abastece parte das regiões metropolitanas de São Paulo, de Minas Gerais e do Rio de Janeiro.

Cerca de 25,6 milhões de pessoas habitam a região. O grande desenvolvimento da região, entretanto, é motivo de problemas em relação à disponibilidade de água.

Isso ocorre porque, ao mesmo tempo em que apresenta uma das maiores demandas hídricas do país, a bacia também possui uma das menores disponibilidades relativas.

Em relação ao uso e à ocupação do solo, um dos principais problemas se refere à ocupação irregular de encostas, áreas ribeirinhas e de mananciais, estimulada em grande parte pela especulação imobiliária.

 

Fonte: Jornal O Tempo (06/03/2007)